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30.5.08

Maloca querida, família feliz 

Senhorita K. está quase obcecada pelas coisas simples da vida. Dia desses ela se deparou com mais uma coisa simples da vida, dessas tão agradáveis que a fez rir.
Estava Senhorita K. em frente à janela do miniapartamento, quando olhou para o teclado do computador. Viu pouca coisa fora do usual na bagunça academicamente organizada da mesa do computador, a não ser uma coisa fora do usual.
Embaixo do teclado do computador, meio escondido, residia muito bem acomodado um papel de chocolate.
Um papel de chocolate lindt vermelho desenhado com folhas brancas, o preferido de Senhorita K.
Ela riu da lembrança de ter comido o chocolatinho mais gostoso de todos os chocolatinhos que existem, e se lembrou da sensação de comer o chocolatinho, e de como foi feliz naquele momento do chocolatinho.
Senhorita K. se sentiu tão realizada ante a lembrança da pequena felicidade do chocolatinho que decidiu nem jogar o papel fora.
Afinal, ele estava se sentindo tão à vontade ali naquele cantinho escondido, adequado, protegido do calor e do frio, que Senhorita K. decidiu aconchegá-lo um pouco mais. Comeu outro chocolatinho e embrulhou o papel junto ao papel habitante.
Uma família feliz. Uma maloca querida.

postado por antonina kowalski às 12:01
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26.5.08

Quero é mais 

American Idol terminou. Como em todos os anos, ele consumiu Senhorita K. até seus favoritos serem eliminados e o vício continuar, bem, só por vício mesmo. Mas este ano foi especial. Dois candidados lindos, o que é uma raridade. Nenhuma negra sensacionalmente boa, o que é uma pena. E uma candidata que pode virar mais uma mulherzinha-entre-as-mulherzinhas-preferidas de Senhorita K. nas paradas do dial.
Mas uma das coisas mais divertidas que esse American Idol fez com Senhorita K. foi redespertar nela o gosto pelos anos oitenta, que, convenhamos, ela vinha renegando mesmo diante da modinha adorativa dos anos oitenta que toma conta dos modernos.
Especialmente, Senhorita K. redescobriu o prazer que é ouvir Lionel Ritchie cantando Hello – tudo graças a David Cook. Hello e tudo o mais de legal que ele canta, como Endless Love...
E como Kim Carnes era sensacional gritando em Bette Davis Eyes.
E como Tainted Love é divertido.
E como tantas coisas afins são legais à beça.
Senhorita K. até redescobriu como gostava de Tracy Chapman sofrendo em Fast Car, música viciante de chorar.
Senhorita K. também remergulhou, graças a Brooke White, na tríade Joni Mitchell, Carole King e Carly Simon. As três melhores coisas do mundo pra se ouvir comendo chocolate.
No final, Senhorita K. discorda que foi uma temporada ruim para o show preferido dos amigos nas quartas à noite, como todos insistem em dizer.
Foi um ano de redescobertas e de tanta diversão, que proporcionou inúmeras dancinhas de elevador, dancinhas em frente ao computador ou rodopios pela casa.
Eu só quero, ano que vem, ainda mais música brega. Pra voltar a ouvir Bee Gees.

postado por antonina kowalski às 13:21
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25.5.08

Dá um chiclete aí? 

Senhorita K. nunca mascou chicletes quando criança. Nem chupou balas. Nem tomou sorvete. Sua avó, oito tias e mãe sempre foram exímias doceiras. Então o doce que alegrava as tardes da pequena Senhorita K. provinha de cocadas caseiras, bombons caseiros, brigadeiros, beijinhos de coco, bolos de chocolate, bolos de laranja e outros acepipes.
Sem contar a fábrica de suspiros no caminho da escola, que provinha os adoçantes industriais necessários ao bom desenvolvimento infantil.
Portanto, Senhorita K. chegou aos onze anos sem nunca ter provado balas, chicletes ou sorvetes. Na verdade, sem nunca ter visto sorvete – e já tendo visto balas e chicletes.
Senhorita K. também chegou aos vinteesete sem nenhuma cárie, mas isso é outra história.
Vem talvez desse conhecimento tardio, impreciso, o fato de Senhorita K. não gostar, até hoje, de sorvete. Ainda se lembra com clareza das saídas vespertinas com as amigas adolescentes à sorveteria. Enchia a taça de bananas, todas as coberturas doces e comia, alheia a todos os flocos, cremes, morangos, chocolates, limões, pistaches que a vitrine oferecia e que, embora Senhorita K. achasse lindo, não gostava.
A mesma coisa foi com as balas. Senhorita K. nunca comprou montes de encher a mão de setebelos, nem nunca as aceitou quando eram oferecidas. Assim como todas as outras balinhas coloridas, divertidas que vinham com escritos bonitinhos dentro, pra guardar na agenda no dia que o menino-de-quem-ela-gostava ofereceu a bala (Senhorita K. aceitava, dava a bala pra amiga e guardava o papel).
Mas com os chicletes foi diferente. Senhorita K. passou a escola e as faculdades recusando, igualmente, os plocs, babalus e outros mais que lhe eram oferecidos. Mas um dia, Senhorita K. resolveu ir passear em São Paulo para, em tese, nunca mais voltar. E aí, no avião, ela descobriu como um chiclete era bom. Ela voou a vida toda, mas só depois de grande o ouvido começou a doer desesperadamente.
Foi a descoberta do século para ela. O trident.
O trident capaz de ser mastigado na subida e na descida. E na chegada e na partida. Nos dias e nas tardes que se seguiam aos dois eventos.
E Senhorita K. virou uma ávida mascadora de chicletes. Ela até tem chicletes a ofercer, nesta nova fase da vida. Mas não qualquer um. Só vale trident. E, de preferência, trident vermelho ou rosa, desses de criança. Só não vale o de canela, que Senhorita K. ainda quer viver alguns anos.
Talvez ela esteja tentando recuperar toda uma infância perdida sem chicletes. Talvez ela só queira estragar os dentes. É um enigma.

postado por antonina kowalski às 16:47
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21.5.08

Gavetas mágicas 

Quando criancinha, Senhorita K. tinha fascinação pelo universo mágico das coisas de adulto. Uma delas era o baralho pornô que achou um dia na casa de parentes, escondido no bolso direito dum blazer mostarda de ombreiras. Outra era a caixinha preta quadrada em que Senhora baba guardava os dentes que caíam da boca de Senhorita K.. Ficava no outro bolso do blazer.
Outra coisa mágica que a fascinava era a gaveta dos documentos. Estava ali, naquela gaveta, todas as provas da existência de Senhorita K. A carteirinha de vacinação, o teste do pezinho, o papel da maternidade com os dados do nascimento e o nome da mãe, a carteirinha de sócia do botafogo e do americano esporte clube.
Mas o que mais fascinava a pequena e rechonchuda Senhorita K. era a certidão de nascimento. Naquela época, elas vinham mais pomposas, mais adequadas à solenidade da ocasião. A de Senhorita K. vinha com capa contracapa corderosa fortes, duras, que se abriam e revelavam a certidão dobrada, o nome que de todos os nomes pertencia só àquela senhorita, naquele dia, naquele local, naquele mundo encantado. Senhorita K. adorava abrir escondida a gaveta de documentos, folhear as agendas da Senhorita baba, os contos perdidos do Senhor babo para, enfim, abrir a certidão e olhar com o reconhecimento daquele pouco tempo de letração os nomes que se juntaram em outros momentos para que ela fosse ela.
Aí um dia desses, Senhorita K. decidiu tomar um grande passo rumo à independência vital dos pais. Pegou a certidão de nascimento da casa de Senhora baba e levou pra casinheta dela. Finalmente, aos vintemuitos, ela era dona de si mesma, de tudo que pertencia a ela.
E perdeu a certidão de nascimento.
Em dois dias.
Ficou arrasada. Envergonhada. Perdera pra sempre a capinha rosa que sempre lhe dissera tantas coisas, que sempre fora a depositária fiel de alguma verdade.
Sentiu-se revoltada consigo mesma. E foi ao cartório registrar-se de novo, tirar nova certidão, voltar a ser alguém. Errou o cartório. Achou o lugar certo, onde o pai foi dar a ela, num dia tão longe, o nome da moça bonita da novela, e pediu uma nova capinha rosa.
Quatro reais.
Uma nova certidão, em papel moderno.
Mas nenhuma capinha corderosa. Nenhuma. Nada. Senhorita K. ainda perguntou: é só o papel?
Não, não pode ser. Certidão de nascimento, já diria o senhor José, é algo importante, é tão importante que merece carinho especial.
Senhorita K. está desolada. Por ter perdido o tesouro mágico da infância numa casa que nem paredes divisórias tem e por ter sua certidão tratada com tão poucocaso pelos oficiosos dos nomes.
Mas tudo bem.

postado por antonina kowalski às 08:39
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4.5.08

Margaridas 

Dia desses perguntaram a Senhorita K. como é possível que, diante de tantas afirmações em outro sentido, as mulheres ainda acreditam no amor.
A primeira reação de Senhorita K. foi, em silêncio, se perguntar se ela ainda acredita no amor.
A segunda, em alto e bom som, foi desfiar um rosário de explicações pseudo-sociológicas que estão na dissertação dela sobre as razões para a crença no amor.
A terceira foi encerrar, como um gran finalle que ela sempre repete, com a frase que diz que o amor não tem regras. E, sendo assim, não há regras que regem nem ao menos a crença em sua existência.
Mas aí Senhorita K., mais tarde, foi ver tevê. Pushing Daisies, um daqueles seriados com premissa excelente e desenvolvimento idem. É assim: um menino descobre que tem o poder de reviver seres vivos mortos, mas só por um minuto. Se não os matar de novo, alguém morre no lugar deles. Adulto, ele vive meio sozinho fazendo tortas e desvendando crimes com a ajuda de defuntos até que se depara com sua paixão de infância num caixão e decide não mata-la de novo. E vive uma paixão platônica com a moça, já que não pode mais toca-la.
Senhorita K. assistiu ao primeiro episódio de Pushing Daisies. E ao segundo. E o que a tocou não foi a premissa, nem os efeitos visuais, nem a fotografia burtoniana, nem a narração à la Amélie.
O que conquistou e enterneceu Senhorita K. foi, em primeiro lugar, aquele amor contido, luminoso, tão impossível quanto irresistível, que faz uma moça beijar um rapaz por meio do filme plástico da comida.
Em segundo lugar, o que ganhou Senhorita K. de vez à série foi Ned. O protagonista. Ou melhor dizendo, Lee Pace travestido de Ned. Não, Senhorita K. nunca esperaria uma paixão em quem não pudesse tocar. Mas Lee Pace, humano e normal como, no fundo, ninguém é, nem ele, é irresistível.
Lee Pace, travestido de Ned ou como ele mesmo, em uma cena de Pushing Daisies. Isso basta para fazer qualquer mulher bobinha ou inteligente acreditar no amor.

postado por antonina kowalski às 19:26
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